1920 - Centenário do Colégio

Com ações de graça, alegria e esperança, celebrou-se, em 1920, o Centenário da Abertura do Colégio do Caraça. Durante um século, cumprira ele a nobre missão de formar multidões de alunos que, espalhados pelo Brasil afora, trabalhavam pela grandeza da Pátria, muitos deles, fundando, na terra natal, o seu colégio ou ajudando na fundação e na orientação de outros. O Caraça podia, satisfeito, contemplar esta floração de escolas para a qual concorriam, agora, várias Congregações Religiosas, aportadas no Brasil, com a missão especial de formar a juventuda: Padres Salesianos (Colégio D. Bosco em 1895, em Cachoeira do Campo), Irmãos Maristas (em Congonhas), Padres do Verbo Divino (Colégio Arnaldo, da Capital Mineira, em 1912), Padres Franciscanos (Colégio Santo Antônio, em São João del-Rei, 1903) etc.

Bem afastado do mundo e com tão difícil acesso, podia, agora, o Caraça cuidar sossegadamente, no "silêncio, na oração e na santidade", da formação de Sacerdotes para a Congregação da Missão, como os Seminários de Mariana e Diamantina, na formação de Vigários para as suas Dioceses.

Ainda continuavam as festas do centenário, quando, em São João del-Rei, um jovem professor, ex-aluno do Caraça, Antônio de Lara Resende, lançava as bases de seu futuro "Instituto Padre Machado", mais tarde transferido para Belo Horizonte.

Muitos moços, inexperientes, saídos do Caraça, encontraram no professor Resende um pai e um amigo a orientá-los na vida e, no "Padre Machado", um outro Caraça, bem mais atualizado nos estudos e na pedagogia, localizando que era no centro de grande cidade.

Às vésperas do centenário, teve o Caraça uma grande alegria: a visita de D. Francisco de Paula e Silva, Bispo de São Luís do Maranhão, ex-Superior do Caraça e fundador da Escola Apostólica. E, em 1919, veio celebrar com os padres do Caraça a festa de São Vicente - 19 de julho, o Núncio Apostólico, D. Ângelo Scapardini.

Outras visitas honrosas de ex-alunos e amigos alegraram, por alguns instantes, os padres e os apostólicos. A Crônica, porém, não registrou fatos extraordinários. Por isto, em 1975, nas festas do Bicentenário, perguntamos ao Pe. Salvador Rubim:

   - É verdade que o senhor era aluno do Caraça por ocasião da visita de Arthur Bernardes?

   - Aluno, não, meu amigo! Já era padre e professor no Caraça. E me lembro como se fosse hoje... Veio um telefonema de S. Bento, avisando a subida de alguns "engenheiros ingleses". O Pe. João Vaessem, Superior, me chamou e disse; "o senhor que não tem aula agora, fique esperando estes tais ingleses, que estou muito ocupado..." E eu como bom mineiro, prudente, comecei a recordar o meu inglês para alguma eventualidade... Mas o tempo foi pouco pois não demorou que de seus cavalos apeassem, ali perto da carpintaria, os seis cavaleiros, ou melhor dizendo: "os seis engenheiros ingleses". Fui me aproximando deles, admirando a beleza dos cavalos, quando olho pra um dos tais "engenheiros e nele reconheço o Dr. Arthur Bernardes. Tomei um susto e gritei:

   - Uai, gente! É o Presidente do Estado!... (*)

E todos começaram a rir. Eu não sabia o que fazer, se os cumprimentava ou se ia chamar o Pe. Superior. Mas graças a Deus, este logo apareceu com o Pe. Natanael, grande amigo de Bernardes.

Tocou-se a sineta, e padres e alunos apareceram para cumprimentar o Presidente e seu Secretariado.

Alguém subiu à torre e repicou os sinos. Foi uma alegria geral e todos riram muito, comentando a surpresa dos "tais engenheiros ingleses". Ora, vejam só... o Dr. Bernardes, homem tão sério e fazendo uma brincadeira destas...

Dizem ainda, continua o Pe. Rubim, que o Dr. Arthur Bernardes, ao passar pelo corredor das aulas, olhou para cima , admirou as estrelas do forro, fungou o nariz e disse para o Dr. Arduíno Bolivar, que foi seu colega no Caraça:

  - Olhe, Bolivar, é o mesmo cheirinho de nosso tempo de aluno!...

(*) Até 1930, o primeiro mandatário da Província ou Estado tinha o título de Presidente; hoje, o de Governador.


ZICO, Pe. José Tobias. Caraça - Peregrinação, Cultura e Turismo, 1ª Ed.
Belo Horizonte, Ed. São Vicente, 1976. págs. 75 e 76.

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