Conclusão

A Ermida do Caraça ou "Hospício Nossa Senhora Mãe dos Homens" teve, no Irmão Lourenço, o seu idealizador e construtor, durante o ciclo do ouro e do diamante na Capitania das Minas Gerais. Ainda no Brasil-Colônia, foram abertas as portas para o Colégio, com justiça proclamado pioneiro e modelar Escola de Educação de nossa juventude.

Caluniado, perseguido, cerceado nas suas atividades, no fim do Primeiro Império e na Regência, pelas "forças ocultas" contra os frades estrangeiros, fechou suas portas e as reabriu quase no meado do Segundo Império para crescer, brilhar e atingir sua idade de ouro como Colégio e Seminário Maior.

Pela contingência da história, sentiu declinar-lhe a estrela no começo da República, obrigando-se a cerrar novamente as portas, depois de 56 anos de uma existência benfazeja e abençoada. Mas continuou por mais 56 anos como Escola Apostólica ou Seminário Menor a educar e formar, muitas vezes, gratuitamente e com grandes sacrifícios, meninos de famílias pobres, dotados de algum sinal de vocação sacerdotal.

Um dia, porém, maio de 1968, o descuido em deixar ligado determinado aparelho elétrico provocou o pavoroso incêndio, reduzindo a cinzas o grande prédio de três andares, reservado aos alunos. E fechou-se novamente o Caraça como Escola de Educação.

Hoje, ao lado da igreja gótica, ali estão, de pé, como outro Coliseu, as grossas paredes de pedra, com as arcadas das janelas a nos olhar com seus tristes e grandes olhos vazados, e a perguntar a todo visitante, aos ex-alunos e amigos do Caraça, à Congregação da Missão, ao I.P.H.A.N, aos poderes públicos: qual o futuro desta Casa bissecular, qual o destino do célebre Educandário, "forja de um povo, glória de uma raça", "o mais impressionante recolhimento de fé, levantado por Deus em terras do Brasil"?

Alguma coisa, é verdade, se procura fazer. Mas quem responderá concretamente à pergunta para o Caraça voltar a ser em benefício da Religião e da Pátria estrela de primeira grandeza?... "Ora, direis... ouvir estrelas..."

Mas é possível a todos ouvir, pelo menos, a linguagem das pedras, à guisa de conclusão do nosso livro: "Se estas paredes pudessem falar... Mas o silêncio tem vozes... E é tão natural o responder, que até as pedras duras respondem e para as vozes têm eco..." (*)


(*) - VIEIRA, Antônio Pe. - Cartas, 31 de julho de 1694.
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ZICO, Pe. José Tobias. Caraça - Peregrinação, Cultura e Turismo, 1ª Ed.
Belo Horizonte, Ed. São Vicente, 1976. pág. 141.